Bolsa do Japão despenca: Nikkei tem queda histórica de mais de 8% na abertura



Por Karine Ribeiro – 7 de abril de 2025

A semana começou com um terremoto nos mercados asiáticos: o índice Nikkei 225, principal termômetro da Bolsa de Tóquio, despencou mais de 8% logo na abertura desta segunda-feira (7). A queda acentuada acionou os temidos circuit breakers — mecanismos de proteção que interrompem as negociações em casos de variação extrema — e acendeu um alerta vermelho entre os investidores globais.

O motivo imediato? A nova escalada na guerra comercial entre Estados Unidos e China. No entanto, limitar o colapso à questão tarifária é superficial. A realidade é mais complexa: a queda em Tóquio revela vulnerabilidades profundas da economia global e sinaliza um cenário desafiador para os próximos meses.

O epicentro do abalo: Ásia mergulha no pessimismo

A Bolsa de Tóquio não foi a única a sangrar. O clima de aversão ao risco se espalhou rapidamente por toda a região:

  • Taiwan: o índice Taiex registrou a maior queda diária de sua história, recuando quase 10%.

  • China e Hong Kong: os índices Shanghai Composite, Shenzhen e Hang Seng também desabaram entre 8% e 10%.

  • Coreia do Sul: o Kospi operava em queda acentuada, refletindo o medo generalizado.

A dependência da Ásia em relação ao comércio internacional — especialmente às cadeias produtivas que ligam EUA e China — torna a região particularmente vulnerável em momentos de tensão geopolítica.

Por que o Japão foi tão duramente atingido?

O colapso do Nikkei não é um acaso. A terceira maior economia do mundo reúne uma série de fatores que a tornam especialmente sensível a choques externos:

  • Economia voltada à exportação: setores como automobilístico, eletrônico e industrial são fortemente dependentes das vendas externas. A desaceleração do comércio global atinge diretamente o coração produtivo do país.

  • Exposição à cadeia de suprimentos global: empresas japonesas são elos fundamentais na produção global. Tarifas ou interrupções afetam toda a estrutura logística e de fornecimento.

  • Valorização do iene: em momentos de crise, o iene é visto como um ativo de proteção. O problema? Um iene forte prejudica as exportações, tornando os produtos japoneses mais caros no exterior e comprimindo os lucros das empresas.

  • Saída de capital estrangeiro: investidores internacionais, que representam uma parte relevante do volume negociado em Tóquio, costumam ser os primeiros a abandonar mercados em períodos de alta incerteza.

Quais riscos estão em jogo? Muito além do Nikkei

A queda em Tóquio não é apenas uma correção pontual. Ela escancara riscos que já estavam latentes nos mercados:

  • Risco de recessão global: a guerra comercial pode ser o estopim que falta para empurrar uma economia mundial já fragilizada — por inflação, juros altos e instabilidade geopolítica — para uma recessão prolongada.

  • Inflação prolongada: tarifas elevam os custos de produção, que são repassados aos consumidores. Isso pressiona ainda mais os bancos centrais, que lutam para conter os preços.

  • Crise de confiança: a incerteza nas regras do jogo afeta decisões de investimento e consumo. Empresários recuam, consumidores pisam no freio.

  • Volatilidade fora de controle: os mercados ficam mais sujeitos a movimentos irracionais, tornando a gestão de risco ainda mais difícil.

Investidores correm para ativos de proteção

No meio da tempestade, o comportamento clássico se repete: fuga para a segurança.

  • Iene: valorizou-se fortemente frente ao dólar, reforçando seu papel como porto seguro.

  • Títulos soberanos: a busca por títulos do Tesouro dos EUA e da Alemanha derrubou seus rendimentos.

  • Ações e commodities: ativos de risco foram duramente penalizados. O petróleo, por exemplo, recuou com força diante da expectativa de menor demanda global.

  • Índice VIX: o "índice do medo" disparou para patamares não vistos desde os momentos mais críticos da pandemia de 2020.

O que vem a seguir? Possíveis cenários

Com os mercados ocidentais prestes a abrir e investidores em busca de respostas, alguns desdobramentos são possíveis:

1. Crise se agrava

A retórica entre EUA e China se intensifica. Dados econômicos negativos reforçam o temor de recessão. O resultado? Novas quedas e circuit breakers em série ao redor do mundo.

2. Intervenção coordenada

Bancos centrais e governos adotam medidas emergenciais — como corte de juros, injeção de liquidez ou sinalizações diplomáticas — para tentar restaurar a confiança. Pode haver alívio temporário.

3. Volatilidade prolongada

O mercado alterna entre fortes quedas e repiques de recuperação. O "novo normal" é incerteza. Os investidores seguem reavaliando riscos e posições.

4. Impacto econômico real se materializa

Indicadores econômicos começam a refletir os efeitos da crise: menor crescimento, inflação persistente e desemprego. A atenção se volta da bolsa para a economia real.

Como o investidor deve agir?

O cenário é turbulento, mas não inédito. A história mostra que momentos de pânico também geram oportunidades — para quem está preparado.

  • Não aja no calor do momento: evite decisões impulsivas. Vender em pânico pode consolidar prejuízos desnecessários.

  • Reavalie sua carteira: verifique se ela está de acordo com seu perfil e objetivos de longo prazo.

  • Diversificação é chave: ativos descorrelacionados ajudam a mitigar riscos em cenários extremos.

  • Busque informação de qualidade: em tempos de ruído, a clareza vem de fontes confiáveis e análises embasadas.

Conclusão: alerta ligado, mas sem pânico

O tombo da Bolsa de Tóquio é um sinal claro de que o mercado global entrou em uma nova fase de instabilidade — e que os efeitos da guerra comercial vão muito além da retórica entre líderes mundiais. O investidor atento, porém, não se deixa levar pelo medo. Com estratégia, disciplina e foco no longo prazo, é possível atravessar a tempestade e sair ainda mais forte do outro lado.